A Voz das Mulheres: Uma Conversa com a Autora Ana Marice Ladeia
A Escritora Fala Sobre Seu Livro "Nasci Odara" e a Importância da Literatura na Construção da Identidade Feminina

NASCI ODARA
Entrevista com a autora Ana Marice Ladeia.
@anamariceladeia
Por EVELYN RUANI
Coordenadora Técnica Educacional das Bibliotecas Escolares do SESI-SP, criadora de conteúdos literários e leitora compulsiva! Apaixonada por livros e palavras.
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Ana Marice Ladeia nasceu em Caetité-Bahia. É médica, cardiologista, doutora em Medicina Interna, pesquisadora e professora universitária, tendo publicado mais de 135 artigos científicos. Mãe de três filhos adolescentes, engravidou de um casal de gêmeos aos 48 anos. Publicou seu primeiro livro de contos Do amor e do amar: história de mulheres reais como você em 2022, como autora independente. Vendeu mais de 700 exemplares em 9 meses. Essa coletânea já foi traduzida para o espanhol pela Caravana Grupo Editorial, editora mineira-portenha e foi lançada em Buenos Aires em 2023. Finalista da Antologia do I Prêmio Literário do Escreva Garota, participando da Antologia “Contos de uma mulher só” que se encontra disponível na Amazon. Semifinalista de Pena de Ouro na categoria Microcontos. Selecionada para a Antologia do Selo Off-FLIP nas categorias de Contos e Poesias, bem como de duas outras Antologias “Nós” e “Nordestes”, lançadas na FLIP em 2023. Seu e-book de “Certos Amores” foi best-seller na Amazon por dois dias na categoria “Casos Verdadeiros”. Seus livros receberam várias avaliações positivas na Amazon. Nasci Odara, foi publicado pela Editora Labrador e lançado na FLIP 2024, além de finalista no Prêmio Kotter de Literatura. E-mail: analadeia@uol.com.br
Vem comigo conhecer um pouco mais sobre essa autora e sua obra:
Nasci Odara é uma obra inspirada em depoimentos reais. Como foi o processo de pesquisa e escuta para dar vida à história de Odara?
Para a construção da história de Odara, conversei com uma mulher trans, conhecendo sua história e suas particularidades. Foram muitas conversas e mensagens trocadas. Mesmo sendo médica, conversei com médicos e psicólogos que acompanham pessoas trans. Também entrevistei outras mulheres trans sobre as suas dificuldades (coloquei no posfácio), para conferir mais autoridade ao meu livro.
Seu livro desafia o pensamento sexista sobre o corpo feminino. Como a literatura pode contribuir para transformar essa visão na sociedade?
A literatura é uma "arma" muito poderosa para a desconstrução de certas visões sociais, especialmente as que lidam com o preconceito. A literatura não é uma estratégia panfletária, é contínua, provoca reflexões e em certo sentido atemporal. A história de Odara fala de uma mulher trans, mas extrapola para outras questões de gênero e orientação sexual.
O título Nasci Odara carrega um significado profundo. Como você escolheu esse nome e o que ele representa na história?
O nome ODARA é inicialmente um nome de origem hindu e significa o "infinito", mas tambem se relaciona com as culturas da matriz africana, onde é um exu do bem, que abre caminhos e organiza o caos. Além disso pode significar "maravilhosa". A protagonista real assim como a personagem do livro é uma mulher preta, da periferia e nós duas juntas escolhemos o nome Odara pelo seu significado forte e de transformação. Nasci Odara traz algo de bom, animador e de esperança.
Você menciona que contar histórias é uma forma de cura e superação. O que mais te marcou emocionalmente durante a escrita do livro?
Escrever é sempre um caminho de curar-se e transformar-se. Nenhum escritor escreve apenas como um observador ou contador de histórias. Trazemos muitas das nossas marcas, angústias e dores para os personagens. Só assim os personagens têm credibilidade e humanidade. Enquanto escrevia Odara, eu olhei para dentro de mim, superei preconceitos e me preparei para as mudanças de rota que, as vezes, aparecem nas nossas vidas. Conhecer a mulher que me relatou sua vida, suas dores, me irmanou com ela e me fez ver que não somos diferentes, pois o "sentir" faz parte do ser humano, está em nós, independente de sexo, gênero. A cultura pode moldar, mas não extingue essa força primordial da humanidade.
Como médica cardiologista e escritora, você lida com diferentes formas de cuidar do coração – física e emocionalmente. Como essas duas áreas da sua vida se conectam?
A prática médica de certa forma me treinou para escutar pessoas para escrever literatura. Eu não cuido de "um coração que vem na mão do paciente", o coração é uma parte das pessoas, elas trazem dores físicas e emocionais, frustrações e angústias. Nenhum adoecimento é exclusivamente físico. Percebo, que escrever me faz ser uma profissional melhor, mais completa com meus pacientes. Eu me sinto mais perto deles, um diálogo que ultrapassa as questões da doença. Eu atendo pessoas.
Seu primeiro livro, Do amor e do amar, teve grande repercussão. Como foi a transição de histórias de mulheres reais para uma ficção inspirada em depoimentos?
Os depoimentos serviram de base para que eu criasse cenários, diálogos e até pesquisasse sobre figurinos para que refletisse cada época, cada momento. Mas serviram sobretudo para que eu visse quem era cada mulher em sua história. Foi um processo muito prazeroso, pois a essência das histórias eram sentimentos femininos e “a potencialidade da mulher”. São histórias que podem ser a sua, a minha, a da sua mãe, avó, etc, pois refletem conflitos e superações de mulheres. Este também é um livro feminista, sem ser panfletário.
Nasci Odara foi lançado na FLIP e foi finalista no Prêmio Kotter de Literatura em 2024. Como você vê o impacto desse reconhecimento na sua trajetória literária?
Essas são conquistas pequenas mas que certamente me estimulam. Contudo, maior estímulo é o retorno dos leitores sobre como a obra os tem ajudado a compreender melhor a transgeneridade, diminuir preconceitos. Se eu tiver conseguido que meu livro tenha tocado profundamente a alma de uma pessoa, já valeu a pena tê-lo escrito.
O protagonismo feminino na literatura foi tema de uma das mesas que você participou na FLIP 2024. Como foi esse debate?
Foi muito importante que a voz da mulher como escritora ou protagonista se solidifique em mundo ainda marcado predominantemente pela presença masculina. E viva as mulheres ganhadoras do Nobel de literatura. Na FLIP de 2025 , estarei em uma mesa onde discutiremos a “psicologia das personagens femininas”.
Além da literatura, quais outras formas de arte ou iniciativas culturais te inspiram na construção das suas histórias?
Adoro cinema. Vejo filmes e faço resenhas sobre eles, e sem spoiler. No filme, não busco apenas a narrativa de uma história, mas as camadas e emoções de cada personagem.
Você já tem planos para os próximos projetos literários? Pode compartilhar um pouco sobre o que vem por aí?
Sempre tenho..., mas as vezes a minha vida acadêmica e de médica me tomam o tempo da escrita literária. Ainda não posso me dedicar exclusivamente a esse tipo de escrita. Mas, posso dizer que meu próximo livro será muito emocionante e vai dialogar com a maternidade, outra questão sensível para as mulheres.
O livro pode ser adquirido na Amazon físico ou ebook pelo link: https://a.co/d/4newY8v e nas seguintes livrarias: Martins Fontes e da Vila em SP, Livraria Drummond em BH e no Magazine Luiza.
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